O Cometa

Tela de Odd Nerdrum

Eu sabia que tínhamos que nos apressar naquela noite, então liguei para o meu amigo Saulo.


-Alô! É do Departamento de Astronomia?
-Sim!
-Pode-me dizer se o professor Saulo está?
-Sim, vou passar para o ramal dele.


Ele atendeu-me ansioso.


-Saulo, sou eu, alguma novidade?
-Sim, eu ia ligar para você neste instante. Está tudo preparado para o evento, mas apresem-se. Adeus!

Respirei fundo e fui até a cozinha.


-Querida, chegou à hora, vamos. Pegue tudo como combinamos, enquanto isso, vou ligar o carro.


Saímos os dois, na calada da noite, direto para o Morro do Macaco. A estrada estava péssima, ainda tínhamos um bom caminho a percorrer até atravessarmos o morro e a colina. Só estaríamos protegidos na casa de Saul, meu primo irmão.
De repente ouvi um gemido.


-Querido! Não estou bem, acho que chegou a hora.
-Não brinque!
-Sério! Vamos pedir abrigo em algum lugar por aqui mesmo.
-Você ficou maluca! Não sabe que estão a nossa procura e se nos acham é morte na certa?
-Sinto muito, Ele não quer saber de nada disso. Pare ali naquele bar.


Fui direto ao homem que estava atrás do balcão.


-Oi amigo! Estou procurando uma pousada, saberia me indicar uma?
-Por aqui? Está brincando!


Nesse momento um rapaz que estava tomando uma cerveja levantou a cabeça e falou-me.


-Sei de um lugar!
-Pode nos indicar o caminho?
-É a casa de minha mana, ela está precisando de grana e essa de vocês caiu do céu.


O quartinho cheirava gordura e xixi de gato, mas foi ali mesmo que ficamos. Olhei pela janela enquanto esperava e pude ver no céu estrelado, um fenômeno sem igual. Era o mais brilhante cometa riscando a imensidão. Nesse instante ela gritou e foi quando ouvi meu filho chorar. Tinha nascido graças a Deus.


-Maria meu amor! Como você está?

-Bem José! Olhe que lindo menino!

-Como vamos chamá-lo?

-Yashua. Ligue para minha prima Ana avisando que estamos bem e que o menino nasceu.