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quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

O Rio Ku

Tela de Hamid Rahmati


Havia no Japão um rio chamado Ku. Era um ria mágico e quem nele mergulhasse, saia rejuvenescido dez anos. Perto desse rio havia uma grande montanha chamada Ki.
Morava nas montanhas Ki uma linda princesa chamada Jori. Ela era de uma beleza singular e era conhecedora de todas as artes, mas, não conseguia pretendente por estar com trinta anos. Já se desesperava, quando lhe contaram sobre o rio rejuvenescedor. No mesmo instante que soube desse rio quis conhecê-lo. Foi com uma pequena comitiva do palácio para visitar as margens e se inteirar do procedimento correto para se banhar de encantamento.Quando chegou ao rio, pediu a ele delicadamente, a gentileza de um mergulho.
O rio Ku, a princípio, fez-se de rogado, turvando e revolvendo suas águas, mas quando viu as curvas da cintura da princesa e o seu longo pescoço branco, apaixonou-se por ela no mesmo instante. Então fazendo ondulações suaves na beirada do rio com suas águas mansas, consente que ela entre nele.
E quando ela se despe do quimono das sedas encantadas e mergulha nas águas do rio Ku, seu corpo se transforma no mesmo instante, em uma haste de lírio branco que fica a balançar para ele.

E agora, sempre quando o vento sopra das montanhas Ki, ouvimos um triste lamento a chamar e a chamar, soprando um lamento.
É a princesa rejuvenescida que chora por seu amor desconhecido.

Quando a primavera chegou, o Rio Ku, transbordava de lágrimas da princesa Jori. O vento agora era uma brisa nas Montanhas Ki que estava entristecida e dura como uma pedra que era. O Imperador do Norte, soube dos encantos da princesa e de sua triste história. Montou uma comitiva para conhecer o Rio Ku. Setecentos samurais estavam a postos com suas espadas flamejantes. O Imperador ia em liteira de cedro e seda brocada de ouro puro. Paravam somente para medir o tempo e contar às garças que chegavam com a primavera.

Era o tempo das sakuras (cerejeiras em flor) e o império pedia ao honorável Imperador Noburo Koihito, uma esposa e um herdeiro.
O Imperador tinha buscado sua eleita nos quatro cantos da Terra e nada encontrou. Rezou para o deus da floresta, mas ele negou o pedido, soprando mil ventos e fazendo os olhos de Noburo Koihito se embaçarem de pó. Pediu ao deus do fogo, mas de nada adiantou, pois o fogo queimou seus sonhos e sua esperança de ter calor e aconchego foi ficando cada vez mais distante.

Um dos samurais da comitiva particular do Imperador, de nome Hiro Tsutomo, compadeceu-se do sofrimento de Imperador Noburo Koihito. E quando a lua vagava no céu e todos se colocavam em repouso, foi ter com o Imperador. Encontro-o tomando chá de folhas de jasmim, sentado em posição de lótus. Reverenciou-se a maneira dos nobres, e foi atendido solenemente. E foi permitido que se pronunciasse.
-Nobre Imperador, sou um pequeno cão danado, por me achar no direito em querer ser atendido por sua honorável figura resplandecente. Sua figura é semelhante ao sol e ofusca meu pequeno semblante. Mas todavia, sei do intento desta viajem. Sei que meu Imperador procura pela bela princesa Jori. Muito ouvi falar, dessa princesa do Lírio Branco, que mora no Rio Ku. O imperador quando ouviu o nome da princesa, põe-se de pé e pergunta:
-O que sabes dela, Hiro?
-Nobre e soberbo Imperador! Sei que ela está encantada e que é prisioneira deste Rio Ku. Ele a mantém junto a ele por uma vontade forçada e estranha. Quem descobrir o seu segredo, fará livre a linda princesa e poderá ficar com ela.
- Tens idéia de como alcançar esse Rio Ku sem que ele perceba, caro samurai Hiro?
-Meu honorável Imperador, há muito tempo venho pensando nisso e tenho uma idéia que pode dar certo.
-Vamos ouví-la, Hiro Tsutomo.

A idéia do samurai continha estratégia de guerra. Eles iriam lentamente até as margens do rio, vestidos de folhas de bambu. Ficariam assim escondidos entre as folhas e espreitando o movimento do rio. E como era boa a idéia, foi aceita e posta em pratica. Assim sendo, ornamentados como um pé de bambu, ao cair da noite, arrastaram-se lentamente até chegar bem perto do Rio Ku. Toda a tropa de samurais foi avisada, para que ficassem esperando por eles durante três dias e três noites, até que voltassem com a princesa.

Dois dias e duas noites se passaram e nada de estranho eles viram às margens do rio. Falavam por sinais e comiam folhas encantadas do mosteiro do Buda da Misericórdia. Na terceira noite, a lua estava muito clara e vagava calmamente no céu. Eles podiam ver toda a orla do rio. Leves ondulações começaram a surgir nas águas. Elas vinham em suaves cadências, até se transformarem, em ondas de espasmos, aflitas e suplicantes. Todas as mensagens que a água emanava, concentrava-se em um único ponto do rio: o lírio branco que ficava a margem dele.
Podia-se ver sua haste fina, balançando de lá pra cá, numa ânsia louca em se livrar das investidas das ondas do rio, de repente, num momento de total desespero, o lírio curvou-se para as águas e partiu-se m dois, na altura da raiz, transformando-se no mesmo instante, numa cobra verde cintilante. Sai de dentro do rio velozmente e vai esconder-se na moita de bambu, onde estão o Imperador e o samurai.

Eles encolhem-se com um certo medo, daquela cobra estranha, mas eles, não têm menos medo do que a princesa transformada em cobra. Ela tremia por medo do rio Ku.

O Rio Ku agitava-se e debatia-se, jogando grossos tentáculos de água, para cima dos bambuzais. O Imperador aninhou a cobra em seu capacete de madeira laqueada, forrado com seda vermelha e junto com o samurai, fogem correndo, como gazelas assustadas.
O rio desesperado, vê sua amada prisioneira, ser libertada, e numa fúria sem igual, explode em furacão, despejando suas águas nos vales ao redor.

Os setecentos samurais que esperavam, estavam a postos neste dia combinado, mas quando viram duas moitas de bambu, correndo para o lado deles, se entreolharam espantados. Empunharam suas espadas e lanças e ficaram esperando um confronto com aquelas figuras verdes e espetadas de bambu. Foi quando ouviram a voz de Hiro, aos berros.

-Que todos saiam daqui, pois esse campo vai ser inundado!

Eles riram a princípio, pois jamais podiam imaginar uma cena daquelas. Quando perceberam o que se passava, colocaram o Imperador Noburo Koihito no palanquim imperial e fugiram dali.
Minutos depois, aquele campo era o Rio Ku.
Dentro do palanquim, o Imperador falou com a cobra verde:

-Não temas! Conheço a sua estória, e vim até esse rio para libertá-la. Se me aceitares poderei ser seu imperador?

Neste momento, a cobra verde, levanta-se do capacete e fica dançando no ar, suspensa em seu corpo fino e vacilante. Começa a tremer, e de seu interior saem chamas e faíscas de luz, que inundam todo o interior do palanquim.
Uma jovem branca como a neve, de lábios de botão encarnado e grandes olhos negros reverencia-se ao Imperador Noburo Koihito e diz:

-Sim!

Ela era a mulher mais linda que o imperador jamais tinha visto. Vestia um maravilhoso quimono de seda verde cintilante, brocado com lírios brancos e libélulas azuis e lilases, Os cabelos negros chegavam aos pés e eram presos por trás com dois prendedores de ouro e ametistas.
Quando chegaram ao palácio e o palanquim foi aberto, somente o samurai Hiro entendeu a presença da princesa Jori.
Todo o reino festejou o casamento de Imperador Noburo e da princesinha encantada. E foi desejado a eles, um rio de felicidade. Um rio não, mas uma montanha de felicidades.

FIM

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