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sexta-feira, 20 de março de 2009

Muitas Moradas

Tela da Daniel Garber



Tenho muitas moradas

Em minha casa.

Em cada canto, uma recordação

De cristalina claridade.


Dentro da casa vivem estações,

Sob o ladrilho das palavras.


O jardim é da primavera.

Ali as folhas sussurram,

Espalham-se equivocando a realidade.

Aceitamos as coisas como vêem.


O outono das salas

Pesam e dizem mais do que dizem.

São doces recordações dos filhos,

Os desenhos rabiscados,

Ondulando pensamentos.


O verão saindo das panelas,

O espírito aventureiro dos temperos,

Capaz de viajar o mundo

Através dos pratos exóticos,

Do lenço na cabeça

Respirando o calor dos aromas.

Incendiamos.


O inverno caminha lentamente à noite

Para a cama, no quarto.

A memória se reserva

A uma existência de lembranças

Antes de dormir.

Contendas, desamor, sofrimento,

Tudo acaba onde o amor acontece

Para tecer as estações da casa.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Tormenta

Tela de Gregory Crewdson



O tempo é curto

Para que eu descreva o surto

Que esparramei naquele lugar.


Cheguei retumbando tormentas,

Anunciando que vim para

Esparramar contendas.


Era um lugar isolado.

Pessoas falavam e falavam,

Eu seguia todos

Com olhar velado.


Pisei num canteiro de flores,

Levantei vários segredos,

A negra cor das paixões

E uma coleção de dores.


Farto de ver alcei-me ao redor,

Espalhei folhas,

Levantei o pó das coisas,

Vi nos olhos o horror.


Armei um vendaval aziago,

Embalei tal estrago

E para minha tristeza

Arranquei os brincos de uma princesa.