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sábado, 29 de janeiro de 2011

Imagem


Tela de Michael Whelan
 

Retorno a tua imagem,
Renovo-a em minha memória,
Que a manteve guardada até então,
Em segredo.

Suplico que abras
Esse véu espesso
E entre na camada fina
De meu imaginário sonho.

Viole a lei oculta
Que te afasta de mim.
Invoque o deus
Que faz renascer quimeras.

Suplique, se necessário for,
Mas venha invadir meu leito.
Diga que foi solidão demais,
Que é insustentável e morro
De saudades.

Que me encontro no centro
De uma eterna espera,
Sem fôlego livre
Para respirar por mim.

Peça para retornar
Ao teu lugar de relâmpago.
Despedace todas as portas,
Se necessário for, mas venha,
Para o meu corpo de silêncio.
Venha abrir as cortinas
Cheias de lembranças.

Quebra-me ao meio se for pra dizer,
Que é tarde demais pra retornar.
Dobra-me até a morte
E passe longe desse abismo
Se for pra dizer que não voltará mais.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Corda Tensa


 Tela de Riccaardo Mantovani


Reconheço que não é tempo de ser feliz.
Mariposas sobrevoam a minha noite
E lobos sacodem os ventos
Para beber da água que espelha o desespero.

A corda tensa do arco vibra
Ao som da voz que grita uma melodia.
Suas palavras silenciam a orbe dos planetas,
Que giram em meu universo.

A dor de se viver é imensa,
Daí nasce a angustia de ser,
Que só se transmuta se és comigo.

Se estás aqui, em meu caminho surge rota.
Meu coração esmagado rejuvenesce
Palpitando um redemoinho e
Adenso-me para escapar do sofrimento.

Viro pássaro e renovo minhas asas
Na ferocidade dos dias.
Quando chegam os tambores
Ressoando a guerra,
Eu sou a primeira a guardar as palavras
De dor e mostrar as benditas.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Tecelã

Fotografia de Eugeny Kozhevnikov



Minha juventude parte com dentes cerrados.
Riscaram meu nome do livro dos vivos.
Entrego-me às chamas rodopiando
Convulsa entre as labaredas do destino.
Língua de fogo acelerada, lambendo
As breves lembranças.

Sou devorada pela luz das chamas
Que se alastram apagando o que fui.
Sou derramada como água de um jarro.

Vou retorcida, esmigalhada pela foice negra.
Coberta num manto de morte,
Abraço meu inverno com pesar e incerteza.
Sigo na aridez da noite temporal,
Que marca o fim das horas.
Dentro do nada evoco o começo de meu tempo
De borboleta menina.

A tecelã do destino sopra em meu rosto,
Como um anjo, sua força de tecer sementes.
Arma-me de volúpia e vontade de querer ser.
Prepara os fios condutores do tear,
Fazendo-me deitar nesse espaço de novelo.